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VIDA ÉTICA, VIDA BOA

Apreciação da palestra de Renato Janine Ribeiro
Café Filosófico
O filósofo Renato Janine faz uma reflexão sobre a vida boa. Vida boa pode ter dois significados: vida feliz e vida eticamente e moralmente correta. É interessante que pode haver um conflito entre a vida feliz e a vida eticamente correta. O homem pode ter desejos que contrariam as regras éticas que a família, e a sociedade impõem, e deixando de realizar estes pode ser infeliz. E ainda o homem é capaz de ser feliz praticando os atos mais abomináveis possíveis. A vida ética pode comprometer a felicidade, assim como a vida boa pode comprometer a ética.
Com relação a esta problemática, Renato trabalha sobre os aspectos que a ética e a psicologia nos propõem. A ética apresenta normas para serem seguidas. Mas o que significa ter uma vida fora do cânone? É fácil pensar em ética como cumprimento mecânico de leis, ou seja, sempre perguntar o que é certo e o que é errado. Mas o que significa ética? Não é cumprir leis, pois isto é necessário, pois caso contrário tem punição, mas sim dar razão para agir bem. Ética é a pessoa acreditar que deve agir de determinada forma. O importante não é cumprir as leis, mas sim saber por que a pessoa agiu bem, pois as razões éticas vêm primeiro que os códigos moral e penal.
Ter uma vida eticamente boa depende das boas escolhas. Mas o que fazer quando os valores entram em conflito? Como fazer nossas opções neste contexto? Passamos por momentos de crises éticas e psicológicas. Temos dificuldades de saber quais são as condutas corretas. São dúvidas que fazem parte de nosso dia a dia. Estas duvidas também podem ter fatores psicológicos.
Ter uma vida boa do ponto de vista ético é equilibrar nossos valores que é uma atitude dolorosa, pois precisaremos abrir mão de algo que gastamos uma vida para construir e tomas decisões que são pesadas que podem causar angustias.
No aspecto psicológico, a vida boa consiste em reduzir o sofrimento. Não agregar a infelicidade do passado ao presente. Mas este é trabalho extremamente difícil, e não é uma receita para ter uma vida sem sofrimentos. Em fim ter uma vida boa significa saber lidar com a crise, a dor, o drama, o trauma. Os valores formais não podem ser maiores que os autênticos. Precisamos ter um contato com a verdade e não criarmos meios para esconder nossas limitações.
Contudo a vida boa é um tema que vem sendo discutido a cerca de 2500 anos. Para os gregos ética seria o equilíbrio, a virtude estava entre os extremos. Desde então surgiu o problema da vida baseada na razão e no prazer. Mas porque não conciliar estas coisas? Para isso é necessário um crescimento ético e psicológico. A ética consiste nas escolhas individuais que fazemos. Precisamos descobrir quais são os valores autênticos e buscar sempre a verdade. Verdade pode doer, pois nos faz deparar com nossa fragilidade. Mas, nisto consiste o sentido da vida.
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IDADE GREGA: O NASCIMENTO DA ÉTICA

1 – Platão: ética da transcendência

1.1  – Contexto geral da filosofia de Platão

Com Sócrates a filosofia alcançou um novo marco. Pela primeira vez o homem tornou-se o tema da reflexão filosófica. “Conhecer a si mesmo.” Sócrates insistiu na necessidade de restaurar a imagem do homem e recuperar seu valor e dignidade moral. Para isso o homem deve de voltar a sua interioridade.
A ética, portanto nasce com temas que nunca foram esgotados: o bem, a virtude, o valor da pessoa e da sociedade. A ética não nasceu de imaginação de um gênio, mas assim a partir da realidade sociopolítica e de fatos negativos que Sócrates viu e viveu. Um exemplo desta manifestação concreta é que o próprio Sócrates foi condenado à morte pelas suas ideias filosóficas. Sem dúvida foi um choque para Platão ver seu mestre condenado injustamente.
Assim Platão passa pelo caminho mais longo seguro que é conscientizar os cidadãos. Pode-se observar que a filosofia de Platão é um processo de educação para justiça e um estado bem ordenado.

1.2  – Os três fundadores

Sócrates traz a reflexão para o homem. Platão nunca desviou da raiz e da temática de Sócrates. Platão teve que inventar o mundo Superior “mundo suprassensível” para responder aos questionamentos que colocou. Aristóteles, porém, se baseou no mundo sublunar a partir das experiências que vivia.
1.3  – Educação e valores da cidadania
Em Atenas os profissionais da educação eram os sofistas, mestres da virtude, grandes adversários de Sócrates, Platão e Aristóteles. Enquanto Platão inicia sua vida preocupado com a verdade, os sofistas não preocupavam com a verdadeira resposta aos problemas.
Para Platão e Sócrates, a virtude não pode ser ensinada como a matemática, mas sim transmitida pelas pessoas de bem, que sabem o que é bom. Platão afirma que o primeiro princípio regulador dos comportamentos é a ideias do bem e da justiça.
A ciência dos valores é necessária para a educação moral do cidadão que deseja viver na justiça. Para saber o que é justo, deve-se começar pela sociedade, não pelo indivíduo. Pois justiça é cada um cumprir sua função na polis. A justiça no indivíduo é quando cada uma das partes da alma cumpres sua função.

2        – Os temas centrais da ética de Platão

Platão não tem um tratado sobre a ética, mas em toda sua obra tem um profundo sentido ético. Os três eixos da ética de Platão são: Justiça, Transcendência do bem, e fundamento da conduta humana.

2.1  – O bem

Os filósofos do círculo socrático discutiram os modos de vida adequados ao ser humano. Duas formas de viver eram mais debatidas: primeiro que o sentido da vida está na busca do prazer, e segundo que o sentido da vida está na sabedoria e na prática da virtude.
Platão defende a segunda linha de pensamento, porém não despreza o valor da busca do prazer, mas somente trata-se de regulá-los e subordiná-los a razão. Pois a vida edonística não satisfaz a melhor parte do ser humano.
Platão funda uma regra fixa para a conduta humana, que não esteja sujeita a variedade e opiniões humanas. Esta norma está na Teoria das ideias, especialmente ideia do bem, “sumo bem”. Assim a regra da felicidade é o bem transcendente que mede nosso agir moral imanente. “Sábio é aquele que pratica a virtude e cultiva a sabedoria.”

2.2  – A virtude é a prática da justiça

É pela prática da virtude, que o homem sábio se eleva do bem que pratica para o sumo bem transcendente. Virtude é uma atividade da alma, e consiste num hábito, um comportamento fixo da alma. A virtude nasce dos costumes que são regulados pelas leis. Virtude é harmonia.
Virtude da harmonia leva o nome de justiça. Justiça e ideia do bem formam a espinha dorsal da ética e do pensamento de Platão. A justiça rege, unifica hierarquiza a variedade dos constitutivos do homem. A justiça harmoniza a polis, a relação entre as classes sociais. A harmonia das pessoas e da polis é uma imitação da harmonia cósmica que também é instaurada pela lei universal e divina da justiça.
Portanto o sistema de Platão só tem uma virtude fundamental: a justiça que rege todas as outras, especialmente as virtudes cardeais da prudência, coragem e temperança.

3 – A política

3.1 – A origem natural da sociedade

Sócrates, Platão e Aristóteles defenderam a origem natural da sociedade. A sociedade nasce do homem, isto é, de sua condição natural. O homem para realizar sua natureza como animal pensante e animal político, um homem precisa dos outros, precisa da instituição política.
Para Platão é do trabalho e das diferentes funções que nascem as três classes sociais: trabalhadora “alma vegetativa”, guerreira “alma sensitiva”, e governante “alma intelectiva”.

3.2 – formas de governo

a)      Monarquia ou aristocracia – é o governo dos melhores, exercido por um homem ou por um grupo pequeno de sábios que governam conforme a prudência.
b)      Oligarquia – não visa o governo sábio, e sim o enriquecimento dos governantes, gerando assim a pobreza dos cidadãos.
c)      Democracia – instaura com a derrubada da oligarquia. A liberdade é garantida pelo regime pouco a pouco se torna anarquia, onde cada um faz o que quer. Os cargos públicos são entregues aos menos preparados.
d)     Tirania – tem origem na demagogia que, ludibriando a confiança popular chega ao poder e suprime toda liberdade. É o reino da injustiça e da desordem.

ARISTÓTELES: ÉTICA DA IMANÊNCIA

A ética e a política de Aristóteles formam o primeiro grande tratado sobre o comportamento das pessoas. A tarefa primordial da ética consiste em colocar certa harmonia e hierarquia. As ciências da ética e da política são mutáveis.
As obras de Aristóteles com relação à ética giram em quatro eixos, que são: a ética é natural, a ética é finalista, a ética é racional, e por fim a heteronomia da ética.

1 – contexto metafísico da ética

Em Aristóteles a ética faz parte do elenco das práticas que são mutáveis e inferiores às ciências teóricas. A ética encontra na política sua plena realização. A ética e a política encontram suas raízes na constituição ontológica do homem.
Os gregos sempre entenderam o ser humano como produto da physis. Para Aristóteles o homem surge da physis graças à atuação de princípios de causas; aqueles que são: matéria e forma, ato e potência, essência e existência, substancia e acidentes.
O homem é composto de matéria e forma. A matéria é o princípio negativo. A forma é o princípio positivo da ordem. A forma dá limites à matéria indefinida. O homem é composto pela mesma matéria dos animais, mas nele a matéria tem forma racional e no animal forma sensitiva.
Quanto à natureza, os pais são nossa causa eficiente. A natureza nos dá a causa final parcialmente. Ela deve ser conquistada ao longo da vida pelo exercício da liberdade. Ou seja, a causa final é no homem sua realização como ser ético que busca seu crescimento moral, intelectual, social e político.

2 – O bem do homem: a ética finalista

Em todas as ações o homem visa uma finalidade, alcançar o bem. Há uma hierarquia de bens e fins ordenados uns aos outros. É necessário o bem final, que sintetize todos, e que será o fim último: a felicidade. Em que consiste a felicidade? São muitas divergências. Alguns dizem que é no prazer, na riqueza, na honra. Para Aristóteles estes valores são meios para a felicidade, e não o fim.
Aristóteles diz que a felicidade está numa atividade da alma.  A realização final do homem para sua felicidade é a atividade racional. “Esta atividade é a melhor, já que não somente o intelecto é a nossa melhor parte, como também os objetos com os quais o intelecto relaciona são melhores.”

3 – A felicidade será exercício intelectual?

A felicidade consiste na contemplação das verdades metafísica e imutáveis? Quem pode ser feliz é só os filósofos? Para os teólogos, a felicidade que vem da contemplação das verdades supremas da filosofia é apenas um prenúncio da felicidade eterna prometida por Deus nos textos sagrados.
Contudo analisando a ética aristotélica, descobre-se que outras condições são necessárias para que o homem seja feliz. “Em muitas ações usamos amigos, riquezas e poder político como instrumentos e há certas coisas cuja falta empana a felicidade.”

4 – Condições da vida feliz

Podemos afirmar que a ética aristotélica propõe pelo menos seis condições para ser feliz: prática das virtudes, um círculo de amigos, boa saúde, suficiência de bens materiais, viver em uma sociedade justa e meditação filosófica.

5 – Homem virtuoso: ética racional

Virtude vem do grego, aretê, do latim, virtus, que quer dizer: energia, vigor, vitalidade, potencialidade. Para Aristóteles, virtudes são todas as energias e funções da alma que classifica nas três modalidades de vida: vegetativa, sensitiva e intelectiva. O homem virtuoso é aquele que consegue ordenar essas variedades de energia e funções.
Na vida instintiva temos desejo de apetite, fome, e sexo. Na vida sensitiva há os sentimentos de dor e prazer, e os cinco sentidos. Na vida intelectiva temos o intelecto, e o desejo superior que é à vontade. O intelecto é exclusivo do homem, princípio de sua especificação e identidade. O intelecto não domina o sensitivo e vegetativo, e sim o orienta. Não há um abismo entre as três vidas. Assim as virtudes éticas é a educação dos instintos.
As virtudes morais são referem ao instinto e a sensibilidade. Virtudes intelectuais são duas: sabedoria e prudência. O homem nasce ético em potencia, pelo autocontrole racional torna-se virtuoso.

6 – A teoria do meio termo: ética da decisão prudencial

A ética nunca é definida. Assim o caminho da ética prudencial para Aristóteles consiste no meio termo entre o excesso e a falta. O meio termo é proporcional a cada pessoa. É o equilíbrio da vida social e pessoal.
7 – Justiça: Virtude da cidadania

A virtude em Aristóteles concentra em três: Sabedoria, prudência, e justiça. Das três Aristóteles privilegia a justiça que é principio de ordem cósmica, social e individual. A justiça consiste em cumprir a lei da polis, relaciona os cidadãos entre si, garante a igualdade e liberdade aos cidadãos. “Justiça está na igualdade, porém nem para todos, mas para os iguais; e a desigualdade é justa, não, porém para todos, mas para os desiguais.”
A justiça legal é também chamada justiça geral. Ela comanda a constelação das virtudes morais. “a justiça encerra todas as virtudes.”

8 – Quem é cidadão?

Para Aristóteles a polis é uma grande comunidade que busca a mesma finalidade que o indivíduo: a felicidade. Esta comunidade é política. A comunidade serve para garantir ao cidadão uma boa existência.
Cidadão são aqueles que tomam parte da administração da justiça. Que participa das assembleias que formam as leis, que tomam parte da administração pública. Portanto não basta morar na polis para ser cidadão. As mulheres, trabalhadores e escravos não fazem parte da cidadania na visão aristotélica.

9 – Governo da Polis

A comunidade política é regida por uma constituição que define as leis do ordenamento da polis. O ponto central de uma constituição é a definição do poder soberano. Aristóteles privilegia três formas de poder: monárquico, aristocrático, e democrático. Estas três formas de governo corresponde a outras três viciadas: a tirania, a oligarquia e a democracia.
As três primeiras são boas, pois os governantes não pensam em seus próprios interesses, e sim o da comunidade. As três viciadas ao contrário os governantes visam o bem particular.
  

Fonte: PEGORARO, Olinto. Ética dos maiores mestres através da história. 3ª ed. Petrópolis. Vozes, 2008.
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ARTIGO CIENTÍFICO


Seminário Diocesano Nossa Senhora do Rosário
Artigo apresentado no final da disciplina Introdução a filosofia.
Título: A ÉTICA ARISTOTÉLICA: O CAMINHO PARA A FELICIDADE COMPLETA 
Professor orientador: Maurício Cruz.
Publicação: Portal eletrônico - Revista Filosofia Capital
Acesse: http://www.filosofiacapital.org/ojs-2.1.1/index.php/filosofiacapital/article/view/132
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COMPARAÇÃO ENTRE O PENSAMENTO DE AGOSTINHO E TOMÁS DE AQUNO COM RELAÇÃO AO CORPO E A ALMA

Por se tratar de dois filósofos Cristãos, Santo Agostinho e Tomás de Aquino, em ambos têm a afirmação de que o homem é um composto de alma e corpo. Porém há diferenças na forma de cada uma destas substâncias, alma e corpo, se relacionar no homem, e também na função que cada uma exerce no ser.
Na própria fundamentação da união da alma com o corpo, Agostinho e Tomás se divergem. Para Agostinho o fundamento é metafísico e está na função mediadora da alma entre as ideias divinas e o corpo. O corpo devido a sua extensão espacial é incapaz de participar direto nas ideias. Ao contrário a alma por sua natureza espiritual, abre as portas para as ideias divinas.  Mas o fato é que o corpo graças à alma participa da sabedoria suprema e da verdade imutável, “ideias divinas”. Por ser mediadora cabe a alma dominar o corpo submetendo-o a si mesma, a Deus.
Já para Tomás não podemos fazer a divisão que a alma por natureza tende a Deus e o corpo tende às leis e os números que está sujeito, “mundo sensível”. Vejamos que em Tomás a alma se une ao corpo por que sem ele, ela seria incompleta. Esta união é vista de forma substancial e não acidental. Resultando da união substancial não é possível separar os atos da alma dos atos do corpo. Os atos são do homem, ou seja de todo o composto. Homem = composto que é diferente de homem = corpo e alma.
Outra divergência é com relação ao movimento. Para Agostinho a alma é que dá movimento ao corpo. A alma é princípio vivificador do homem. Alma é completa e ainda assim se une a um corpo para dá-lo vida e formar uma substância. De acordo com Tomás a alma sendo forma substancial tem o poder de ultrapassar os graus do ser vegetativo, sensitivo e dá a ao corpo a razão. E a alma por ser incompleta, também precisa do corpo para exercer suas atividades por meio dos órgãos.
Uma semelhança entre o pensamento agostiniano e o tomista é que em ambos a alma é superior ao corpo, porém há uma diferença de proporções. Como vimos para Agostinho a alma como mediadora é superior ao corpo e cabe a ele dominá-lo. Esta dominação em sete graus. Desde a função anímica até a contemplação. Tomás também diz que a alma é superior ao corpo “matéria”. Pois as formas são medidas de acordo com a participação do ser. E a alma racional transcende a matéria por não estar presa a ela. A alma racional é superior a sensitiva e vegetativa.
Em ambos a união entre corpo e alma é eterna, pois a salvação é regatar toda a saúde humana, portanto corpo e alma. Se a alma é semelhança de Deus pela forma, ela tende a voltar a ele na visão agostiniana e tomista.
Contudo a problemática do regresso da alma e a volta da alma para Deus foi um grande problema filosófico e até em nossos dias não deixou de ser causa de reflexão. Agostinho e Tomás deram respostas brilhantes e racionais. Com relação ao pensamento Agostiniano podemos perceber que ele não deu uma resposta satisfatória com relação à união do corpo com a alma. Pois se alma é completa, por que então veio cair em um corpo? O fundamento metafísico de mediação não responde a este questionamento.
Tomás diz que a ama é incompleta e precisa do corpo. Daí o fundamento para tal união, mas a alma é criada com o corpo? Ou existe alma penando a procura de um corpo para ficar completa? O problema da origem da alma continua a nos desafiar. Deus criou ou continua a obra da criação? Em fim, vimos que as teorias de Agostinho, fundamentada em Platão e Tomás em Aristóteles não só em relação ao homem, foi de grande importância para a filosofia e para o pensamento cristão.
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PROBLEMAS ÉTICOS CONTEMPORÂNEOS

A ética desde os primórdios ocupa um lugar relevante na filosofia e nas demais ciências humanas. O homem sempre se preocupa e se sente incomodado com questões morais, que tiram a dignidade da pessoa de viver. São inquietações que não querem parar ao olharmos a sociedade a nossa volta: desemprego falta de moradia, violência contra a mulher, impunidade à pedofilia e problemas ecológicos e ambientais. De acordo com alguns autores o homem é um ser político e ético. Por que nossa sociedade vive inflamada e atormentada por esses problemas que tiram a alegria de viver de tantos cidadãos?
Com relação ao desemprego é necessário observar que desde a revolução industrial a mão de obra é cada vez mais qualificada. A máquina ocupa o lugar do homem no mercado de trabalho. É comum chegarmos ao banco e encontrarmos caixas eletrônicos para nos atender ao contrário do atendimento personalizado que é cada vez mais restrito. O computador faz cálculos e operações que antes eram necessárias centenas de pessoas para efetuar tamanho resultado. Portanto quem não tem qualificação fica a margem e muitas vezes excluído do mercado.
A falta de emprego traz imensas feridas para a sociedade. Pai desempregado sem dar o que comer a seus filhos. Jovem querendo crescer na vida, mas sem emprego e experiência é complicado. E se o trabalho justo é burocrático e difícil de ingressar o crime, o tráfico, e o roubo estão de portas abertas oferecendo dinheiro fácil. É preciso muita estrutura para não cair nessa armadilha que infelizmente muitos caem. Com toda problemática vimos que é necessário qualificar cada vez mais os trabalhadores, empreender em indústrias aumentado a economia do país.
Uma das grandes consequências do desemprego e da exclusão social é a falta de moradia. Ter um lugar digno para morar é uma questão básica e possibilitar isso ao ser humano é garantir também sua cidadania. Por isso, projetos de casa própria vêm sendo montado e é um caminho plausível. Porém, mais do que oferecer casa é necessário oferecer educação, saúde, trabalho, em fim condições de vida para o cidadão.
Outro problema ético que há muito tempo nos acompanha é a violência contra a mulher. Ao longo da história em nossa cultura a mulher foi tratada como ser inferior inclusive por muitos filósofos. Mas onde fica nossa moral e entendimento de raça humana ao contemplar esta ideia? Sabemos que a mulher é excluída no mercado, abusada sexualmente por empresas do sexo. Porém, hoje esta situação está aos poucos sendo superada. A mulher com muito trabalho está conseguindo conquistar o seu lugar. O segredo está na sociedade ser educada para deixar esta ideologia desumana que a mulher é inferior, para assim termos a tão sonhada igualdade.
A impunidade à pedofilia atualmente ganhou muito espaço nas discussões éticas. Aos olhos da psicologia sabemos que a pedofilia é uma parafilia. É um problema que atinge muitos setores da sociedade inclusive a igreja. Toda instituição é composta por humanos e sujeita a falhas. Porém o que não pode acontecer é pessoas pedófilas permanecerem exercendo sua função e praticando o crime. É extremamente necessário o pedófilo fazer tratamento e ter um bom acompanhamento de familiares e amigos. Perante a lei também deve responder pelo crime independente da posição que ocupa.
As questões de ordens ecológicas e ambientais são preocupantes em nossos dias. A ética como que avaliando a forma que o homem vive em seu meio social, a ecologia e o meio ambiente está totalmente relacionado a essa forma de agir. O homem como um animal racional também faz parte deste mundo e precisa zelar por ele. Tantos desastres ambientais causados pelo homem poderiam ser evitados, mas a ganância de querer sempre mais nos deixam cegos com relação à ordem natural das coisas.
Existem muitas discussões sobre aquecimento global, efeito estufa, poluição e desmatamento. Em vista desta problemática foram realizadas várias conferências como Rio 92, A Agenda 21, Protocolo de Kyoto. Mas na prática a situação é complicada. O que vemos é um desrespeito a vida. Rios poluídos, florestas sendo queimadas e destruídas, gases sedo lançadas na atmosfera. O planeta pede socorro! Onde se encontra a moral do homem para com ele e os demais seres vivos?
Contudo vemos que os problemas éticos atuais estão ai para serem discutidos e solucionados. A sociedade se encontra preparada para dar mais esse passo? Todos têm consciência de seus atos? O mundo se interessa em resolver o problema dos pobres? Aristóteles entendia a ética como caminho para a felicidade. E a maior virtude para se chegar a ela é a justiça. Por isso precisamos lutar por uma sociedade justa, para alcançarmos a superação dos conflitos éticos que nos afetam atualmente, e que, assim todos tenham a dignidade de viver.
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RELAÇÕES DO NEOPLATONISMO COM O FILME AVATAR

O filme Avatar é uma ficção científica que podemos fazer um bom paralelo com o pensamento filosófico do neoplatonismo. Os Na’vi, habitantes de Pandora, vivem em plena harmonia com a natureza, veneram a deusa Eywa[1]. E são considerados pelos humanos como povos nativos.
No Neoplatonismo, o Uno é o princípio primeiro absoluto produtor de si mesmo. Do Uno deriva o Nous (espírito) e a alma. Tudo esta ligado ao Uno e a ele retornará. Podemos ligar o Uno com a Eywa, onde todas as almas um dia retornarão. É o início e a unidade das almas.
 O espírito podemos fazer uma analogia com a árvore sagrada no filme. Uma árvore que reflete imensa luz. É interessante que a árvore sagrada está intimamente ligada a Eywa, assim como no neoplatonismo o espírito está ligado ao Uno. Nesta árvore encontra-se espíritos muito puros e a inteligência que é distribuída pela floresta por milhões de conexões.
Para acessar estas inteligências os Na’vi usam a conexão (própria de sua raça) e sente as informações no interior. “Tudo é uma rede de energia que flui, e que um dia tem que ser devolvida”. Este princípio de interiorização, ativo no neoplatonismo, é mostrado de forma bem clara quando Jake vai escolher seu Ikran[2], Neytiri (Filha do rei do Clã Omoticaya e da Rainha Espiritual) responsável por ensinar os costumes do povo Na’vi a Jake, diz a ele que a escolha era recíproca, e para saber qual o animal certo era necessário sentir interiormente.
A dualidade corpo e alma também é representada quando Jake mata um animal na caça e diz: “Que seu espírito se junte a Eywa, seu corpo fica aqui para se tornar parte do povo.” É o momento em que ele demonstra seu respeito para com a natureza, dá ao animal uma morte limpa.
 O nome Avatar vem dos corpos Na’vi-Humanos, híbridos – DNA humano mais o DNA dos Na’vi, que os cientistas criaram para a comunicação com os nativos de Pandora. Para transferir a consciência do humano para o Avatar é usada uma máquina que compartilha o material genético do humano com Avatar. É mentalmente ligado e pode se conectar através de conexões neurais que permitem o controle do corpo do Avatar.
Mas a consciência de Jake só passa de vez para o corpo do Avatar quando os Na’vi fazem um ritual e pede a Eywa, que mude a alma de Jake de corpo. A transferência é feita pelos espíritos puros da árvore sagrada. Podemos supor que antes as conexões eram apenas neurais a alma e espírito de Jake estavam no corpo humano, ao passo que após o ritual a alma e espírito se encontram no Avatar. Portanto assim como no neoplatonismo quem da vida ao corpo é o espírito e a alma.
A crença na vida após a morte é mostrada nas arvore das vozes, onde os Na’vi ouvem as vozes dos antepassados. Também quando a Dra. Grace não resiste aos ferimentos, durante o ritual na tentativa dos Na’vi de salva-la ela escolhe ficar com Eywa e diz que ela era real.
A alma deve de buscar o Uno, não os valores materiais. Temos no filme um exemplo claro do que acontece dos dois lados. Os Na’vi viviam em harmonia, bastavam-se eles mesmos ligados a Eywa. E esta era a riqueza deste povo. Por outro lado na pessoa do Coronel Miles, podemos compreender a pessoa que coloca o material acima de tudo. Ele queria o dinheiro, explorar o unobtainium rico em energia. Com isso causa sofrimento aos humanos e aos nativos. A alma buscando o Uno é feliz, quando busca o material e nada mais, entra no sofrimento.
Contudo podemos observar que o pensamento sempre se fundamenta em algo anterior. Um filme atual, com ficção e tecnologias do futuro que mostra o pensamento de um período histórico de aproximadamente 205-529 d.C.


[1]Deusa  responsavel pelo equilíbrio da vida
[2] Animal adaptado para o vôo em pandora. Eles representam um rito de passagem na vida dos aspirantes a guerreiro Na’vi que devem escolher um animal para domá-lo e montá-lo. 
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GREGÓRIO DE NISSA, SÃO

Introdução
O presente trabalho faz uma breve abordagem do grande Capadócio Gregório de Nissa. Apresenta sua biografia, seus principais pensamentos, e influencias que seus pensamentos teveram na filosofia e em nossos dias. Como metodologia foi utilizada pesquisa bibliográfica, eletrônica, leitura, análise, e interpretação do texto pelo método analítico dedutivo.

Biografia.

Segundo Mora (2001) Gregório de Nissa foi Teólogo e filósofo cristão nascido em Cesaréia, da Capadócia, na Anatólia, Ásia Menor em 335, hoje Kayseri, Turquia, irmão de Basílio de Nissa, destaque na consagração do pensamento cristão e um dos personagens mais significativos da idade de ouro da Patrícia e um dos precursores do trabalho de Santo Agostinho.
Segundo Boehner e Gilson (1970) Gregório de Nissa foi aluno de São Basílio, Estudou em Cesaréia, Alexandria e Atenas e começou a vida como professor de retórica até que se voltou para os estudos religiosos e para a devoção cristã (360). Foi consagrado bispo de Nissa, pequena localidade da Capadócia (371) por seu irmão Basílio, bispo metropolitano de Cesaréia. Faleceu no ano 394 e é festejado na Igreja Católica Romana em 9 de março.
Para Boehner e Gilson (1970) Gregório de Nissa avantajava-se dos outros Capadócios, Basílio Magno e Gregório de Nizianzo não só pela força especulativa, mas também pela extemção e profundeza do saber.

Pensamento

Segundo Reale e Antiseri (1990), Gregório de Nissa é autor de várias obras, mas a de maior destaque é O grande discurso catequético, de cunho teológico. Entre os diversos temas tratados nas obras de Gregório de Nissa, vamos destacar três particularmente de ordem filosófica e moral.
a) Corpo e alma
Segundo Boehner e Gilson (1970) Gregório de Nissa faz a distinção da realidade em mundo sensível e mundo espiritual. O mundo sensível é perceptível pelos sentidos o espiritual é intangível. O homem constitui o elo entre os dois domínios. O homem assegura a grande unidade cósmica.
Mas ao contrário de Platão e sua dualidade, Para Gregório de Nissa a alma não se separa do corpo, a união é eterna. A morte nada mais é do que o retorno do homem ao estado invisível. Segundo Reale e Antiseri (1990), para Gregório a alma e o corpo são criados simultaneamente a alma sobrevive e a ressurreição constitui a união.
b) O homem não é um simples microcosmos, é muito mais.
Segundo Reale e Antiseri (1990), Ao contrário dos filósofos gregos, Gregório de Nissa diz que o homem não é um simples microcosmos (mistura dos quatro elementos), pois assim sua natureza seria a mesma da mosca, do rato e demais animais. Mas a grandeza do Homem está em ser a imagem e semelhança do criador de nossa natureza. “O homem possui todos os bens possuídos pelo próprio Deus, pois o que é criado segundo a imagem é em tudo semelhante ao teu protótico. (BOEHNER e GILSON, 1970, p. 101).
A diferença entre Deus e o homem está justamente no Nous. Aquele que é incriado e o que foi criado. Deus possui todos os bens da natureza incriada, ao passo que o homem possui todos os bens da natureza criada. A nossa natureza limitada reflete as propriedades inefáveis da divindade.
c) Versão cristã da elevação a Deus neoplatônica.
Segundo Reale e Antiseri (1990), para Gregório a divindade é pureza, libertação em relação as paixões e remoção de todo o mal. Se o pensamento do homem estiver livre das paixões, do mal imune de toda impureza, este homem é bem-aventurado, pois Deus está presente nele. “A medida pela qual podeis conhecer a Deus está em vós mesmos” (NISSA, apud REALE E ATISERI, 1990, p. 420).
Principais influencias
Segundo Mora (2001), Gregório de Nissa exerceu influencias na teologia e na filosofia especialmente em seus escritos sobre o homem e seu lugar no cosmo, sua alma e sua imortalidade.
De acordo com Boehner e Gilson (1970) Gregório de Nissa Participou do Concílio de Constantinopla (381), onde com seus textos anti-heréticos formulou a doutrina da Santíssima Trindade, utilizando argumentos inspirados na teoria das idéias de Platão. Doutrinas presentes até em nossos dias, claro que com novas concepções.
Com a doutrina da eterna ligação entre alma e corpo, Gregório de Nissa influenciou a ressurreição do corpo “carne” que é professada pela fé católica no creio.
Considerações finais
Assim podemos perceber a importância do pensamento de Gregório de Nissa e como seu pensamento ainda continua vivo em nosso meio. Hoje ainda cremos na ótica do mundo religioso que o homem é a imagem e semelhança de Deus. Muitas religiões como a católica usam de sua tese para justificar a ressurreição da carne. E para finalizar ainda temos os olhos buscando “as coisas do auto” e acreditamos em um mundo transcendente.
Contudo ficam alguns questionamentos: Será que alma permanece ligada ao corpo para sempre? Se permanecer, quando o corpo se decompõe a alma continua ali espalhada? Será que podemos nos livrar de toda paixão e buscar somente a divindade? O homem tem vivido em condições de ser chamado de filho de Deus?

Referências

BOEHNER, Philotheus e GILSON, Etienne. História da Filosofia Cristã – desde as origens até Nicolau de Cusa. 2ª ed. Trad. Raimundo Vier, Petrópoles, Vozes 1970.
MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Loyola, 2000.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia. 10. ed. São Paulo: Paulus, 1991. v. 1.
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A INSTABILIDADE



O mundo não para. A cada dia surgem novos lances que nos deixam assustados e desatualizados. Vivemos em constante mudança não só no campo tecnológico, mas também científico, filosófico, e religioso. As conseqüências são brilhantes, mas também alarmantes. Em plena era globalizada como vamos acompanhar estas transformações violentas?
No campo tecnológico a cada dia surgem novos produtos que facilitam nossas vidas. Coisas que gastávamos dias ou semanas, hoje fazemos com minutos. Por outro lado estamos nas mãos dos mercados, pois não queremos ficar ultrapassados com mercadorias velhas, com isto temos a necessidade de sempre comprar.
Nos aspecto filosófico basta olharmos a história da filosofia como os pensamentos são inovadores. São como elos que formam uma corrente. Afinal a filosofia é um olhar sobre a realidade e se a realidade muda e filosofia acompanha. Com tanta multiplicidade teorias nos mostram novas direções.
No campo científico, as mudanças são profundas. A astrologia a cada dia vem clareando nossa visão do universo, a ciência vem trazendo cura para doenças que antes eram mortais. Mas nem todos estes investimentos são éticos e a favor da vida que é valor supremo.
E no mundo religioso saímos do Deus Medieval que castiga, para o Deus que é amor, amigo e companheiro. Hoje temos liberdade para escolher a nossa religião. Em outro ângulo a cada dia surgem novas igrejas que dizem estar a serviço do reino de Deus, mas visam somente fins lucrativos.
Contudo, todas estas inovações estão interligadas, e uma influencia a outra. Vivemos numa corrida rumo ao desconhecido. A reflexão vai nos ajudar a discernir o que realmente precisamos para não cairmos na competição do mundo que nos cansa e estressa. Assim aproveitemos de tudo isto o que é bom e nos faz feliz.
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COMO NASCE A MORAL


Segundo novos estudos, o senso de justiça e a compaixão não vem da educação ou da religião, mas podem ser fruto da seleção natural e da evolução humana.
Uma das maiores qualidades humanas é saber distinguir o certo do errado. Mas de onde vem o conceito? Até poucos dias a convicção era que a moralidade nascia através da convivência com os outros. O papel de formar a moral era da sociedade e da cultura.
Com o progresso da ciência, os estudos do cérebro indicam que adquirimos a capacidade de aprender o que é justo ou injusto com a própria seleção natural. As instruções para produzir um cérebro com capacidade de saber o certo ou errado está no DNA de cada ser humano. A moral evoluiu em nossa espécie no decorrer do tempo.
O desenvolvimento da moralidade não é uma qualidade exclusiva de humanos. Estudos indicam que as atitudes altruístas estão crescendo cada vez mais no reino animal. Mas como as atitudes de amor, bondade pode evoluir em meio à agressividade e competição do mundo natural?
Alguns etólogos chamam de seleção de parentesco. Assim explica a formação de grupos afim de defender a vida em meio a competição. Mas o nepotismo está longe de explicar a moralidade.
Em relação à problemática, psicólogos apresentam a teoria da mente. Ou seja, quando uma entidade biológica tem a capacidade imaginar que outra entidade possa ter uma vida parecida com a dela. Quando tentamos nos colocar no lugar do outro. Mas ninguém tem esta capacidade tão aguçada quanto o ser humano. Justamente daí que pode nascer a moralidade inata. Além disto, o homem é dotado de inteligência, o que lhe permite pensar e talvez até driblar a moral inata, daí vem as distorções morais individuais ou coletiva por meio de um líder que manipula um certo grupo.
Além da moral inata, é claro que o ambiente em que se vive, “cultura” influencia na construção da moral. Afinal, Osama Bin Laden e seu grupo se dizem a favor da justiça. Outro aspecto que pode atrapalhar a distinção do certo e errado é os problemas cerebrais, como os psicopatas que segundo estudos seu problema pode estar na amígdala e no córtex frontal do cérebro.
Muitas vezes o ser humano não age moralmente correto. Wright nos propõe a soma não zero, onde todos podem ganhar. O que é certo, é que precisamos evoluir mais. privilegiar a cooperação e deixar a competição.
Reflexão crítica
Diante da problemática apresentada em relação à origem da moral, acredito que de fato, nossa espécie evoluiu ao logo do tempo, pela seleção natural. Nosso cérebro foi adaptando de acordo com as nossas necessidades. Hoje o ser humano já nasce gostando da vida comunitária. Qual bebê que gosta de ficar sozinho?
Acredito que as crianças não nascem como um papel em branco onde vamos escrever o que quisermos como afirmam alguns estudiosos. Elas já nascem com algo interior. Crianças não são acomodadas diante da realidade, elas fazem perguntas desejam saber. Interiormente já tem esta necessidade.
Hoje, fica claro que nosso cérebro exerce funções sublimes em nosso corpo. Qualquer deformação ou lesão cerebral pode complicar nossa sanidade, moral, fala e outras funções do corpo. O cérebro continua sendo estudado e com certeza tem muitas descobertas ainda pela frente a ser realizada.
No entanto não podemos atribuir à genética toda formação da moral. Outro fator de grande importância é a cultura. O meio em que se vive vai modelando a pessoa de acordo com os costumes. Vale ressaltar os valores familiares, religiosos que influência diretamente na moral. Basta vermos as diferenças que existem entre o senso do pode ou não pode em toda civilização.
Podemos perceber também que no reino animal esta evolução em proporção menor está acontecendo. Vemos a relação de companheirismo entre os animais. Já temos até estudiosos que dizem que o que diferencia os humanos dos animais é apenas a religião.
Nem todos os seres humanos agem moralmente correto. Significa que temos um logo caminho pela frente. De onde vem a falha? Do DNA ou da sociedade? Precisamos valorizar maios o coletivo e deixar a competição e a ganância. Não é tarefa fácil, mas podemos também evoluir neste sentido.
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CRÍTICAS ARISTOTÉLICAS À METAFÍSICA PLATÔNICA


Sem dúvidas Aristóteles foi o maior discípulo de Platão. Mas sua relação com o mestre não foi só de concórdia. Por diversas razões, ele não julgou aceitável o mundo das ideias ou segunda navegação de Platão. Isto porque em sua opinião, Platão não explicou “o ser das coisas,” “o vir-a-ser das coisas,” nem sua relação com as ideias, nem como o homem pode conhecê-la.
Não explicou o ser das coisas porque na teoria platônica, as ideias constituem o ser e a substância de cada coisa. Assim Aristóteles questiona: “como é possível que as ideias, sendo as substâncias de cada coisa, existam fora dela”? Para Aristóteles a ideia das coisas, tem que estar nela mesma, e não fora, pois se as ideias estivessem separadas, transcendentes não poderiam ser causa da existência e cognoscibilidade das coisas.
Para resolver esta problemática, Aristóteles introduz as formas ao mundo sensível. Apresenta a doutrina dos sinolos de matéria e forma como a nova alternativa para a proposta platônica. Porém Aristóteles não nega o supra-sensível como muitos afirmam, mas contesta o que Platão pensava que fosse. Para Aristóteles o mundo supra-sensível não é um mundo de inteligíveis, mas de inteligências tendo como ápice a suprema das inteligências. As ideias ou formas fazem parte do inteligível do sensível.
Em segundo lugar, a doutrina das ideias não explica o vir-a-ser das coisas. Pois se o mundo das ideias é em si mesmo, imóvel e perfeito, de que deriva o movimento e o devir, que são típicos do mundo sensível? Assim Platão não explica a relação das ideias com as coisas, a não ser com palavras metafóricas como participação e imitação.
Em fim para Aristóteles as ideias são réplicas inúteis. Pois ao colocar as ideias como causas, na verdade duplicou-se o número das coisas a explicar. E esta duplicação trouxe várias complicações, podendo levar a um regresso ao infinito. Suponhamos por exemplo que uma coisa é a essência animal e outra coisa o animal. Ou seja a essência é diferente da coisa. Seria necessário admitir outras substâncias, outras naturezas, outras ideias anteriores. Como se a equinidade é a essência do cavalo, qual é a essência da equinidade?
Pelos aspectos exposto, pudemos perceber que a relação entre Aristóteles e Platão não foi de contradição, mas de superação. Se tratando de metafísica, Aristóteles os deixou uma grande contribuição.
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Fontes: REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia, 10 ed. São Paulo, Paulus, 1991 v. 1.
REALE, Giovanni, História da Filosofia Antiga, São Paulo. Loyola, 1994.
MONDIM, Batista, Curso de Filosofia, São Paulo, Paulinas, 1981.
JOLIVET, Regis. Vocabulário de Filosofia, tradução de Gerardo Dantas Barretto, Rio de Janeiro, Agir 1975.
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OS FÍSICOS PLURALISTAS E OS FÍSICOS ECLÉTICOS


INTRODUÇÃO
No presente trabalho, temos a abordagem de uma das mais antigas problemáticas da filosofia: o principio de todas as coisas, com os filósofos naturalistas ou filosofos da physis, “físicos Pluralistas e os físicos Ecléticos”, Empédocles, Anaxágoras, Leucipo e Demócrito, Diógenes e Arquelau.
Empédocles, o primeiro dos pluralistas herda dos Eleáticos a impossibilidade do “não ser”. Apresenta o principio de todas as coisas, “as quatro raízes: água, ar, fogo, terra”. Estes elementos são governados por duas forças cósmicas, o amor e o ódio: um agrega a outra desagrega. Anaxágoras fala sobre o nascimento e a morte dependem da agregação ou desagregação das homeomorias “sementes” que são movidas por uma inteligência cósmica.
Leucipo e Demócrito trazem um grande benefício para a filosofia e a ciência com a descoberta do átomo. São os últimos a tentar resolves a questão eleática. Para eles o ser não nasce, não morre e não entra em devir. Aderem à realidade sensível, isto é, os átomos. Diógenes e Arquelau criticam os pluralistas e retornam ao monismo. Combina as teses de Anaxímenes com a de Diógenes, afirmando que o princípio de todas as coisas é o ar-inteligência.
O trabalho apresenta uma breve biografia do filósofo, e em seguida seu pensamento, reflexão, tese. Como metodologia temos: pesquisas, leituras, interpretações e escrita.
EMPÉDOCLES: AS QUATROS RAÍZES
Biografia
Primeiro pensador que procurou resolver a aporia eleática. Nasceu em Agrigento por volta de 484/481 a.C. Morreu em torno de 424/421 a.C. Além de filósofo foi também místico, taumaturgo, médico e ativo na vida pública. Compôs poemas dos quais chegaram até nós somente fragmentos.
“Relatos sobre seu fim pertence à lenda: Segundo alguns, teria desaparecido durante um sacrifício; conforme outros, ao contrário, ter-se-ia jogado no Etna.” (REALI; ANTISERI, 2003, P.40).
Pensamento
Para Empédocles, como para Parmênides, o nascer e o parecer são compreendidos como vir do nada e o ir para o nada são impossíveis. Pois o ser existe e o não ser não existe. Então não existe nascimento e morte, para eles existe o misturar-se e dissolver-se de algumas substâncias que permanecem eternamente iguais e indestrutíveis. Estas substâncias são a água, ar, fogo e terra. São elas as raízes de todas as coisas.
Os Jônios tinham escolhido ora uma ora outra uma dessas realidades como princípio, sendo que as outras derivavam dela através do processo de transformação. A inovação de Empédocles é o fato de proclamar a inalterabilidade qualitativa e a intransformabilidade de cada uma.
Nasce, portanto a noção de elemento. O elemento é algo de origem qualitativamente imutável, capaz somente de unir-se e separar-se espacial e mecanicamente em relação a outra coisa.
Chamado concepção pluralista que supera o monismo dos Jônios e dos Eleatas. O pluralismo nasce como respostas às drásticas negações dos Eleatas.
A Amizade e ódio
Empédocles inseriu as forças cósmicas do Amor ou Amizade (Philía), e do ódio discórdia (neîkos), respectivamente, como causador da união e separação dos elementos. Quando há amor e amizade os elementos se unem. Ao contrário, quando há ódio e discórdia eles se separam.
O cosmo não nasce quando prevalece amor ou amizade, por que a predominância total desta força faz com que os elementos se reúnam (um ou esfera). Quando o ódio ou discórdia prevalece, os elementos ficam completamente separados, e também neste caso as coisas e o mundo não existem.
O cosmo e as coisas do cosmo surgem nos dois períodos de transição, que vão do predomínio da Amizade ao da Discórdia e depois, do predomínio da Discórdia e da Amizade. E em cada um desses períodos temos progressivo nascer e progressivo destruir-se de um cosmo. (REALI; ANTISERI, 2003, P.41).
Os processos Cognoscitivos.
Empédocles dizia que das coisas e dos seus poros saem eflúvios que atingem os órgãos de sentido de modo que as partes semelhantes de nossos órgãos reconhecem as partes semelhantes dos eflúvios proveniente das coisas: o fogo conhece o fogo, a água conhece a água, e assim por diante. No campo visual o processo é inverso, os eflúvios saem dos olhos, mas não perdem o princípio de que o semelhante conhece o semelhante.
Os destinos do homem.
Empédocles desenvolveu as concepções órficas. Expressou em verso o conceito de que a alma do homem é um demônio que foi banido do Olimpo pelo fato de sua culpa originária, e jogada a mercê do ciclo dos nascimentos, sobre todas as formas de vida pêra pagar sua culpa.
Também eu sou um destes, por que confiei na furiosa contenda...
Porque um dia fui menino e menina,
arbusto e pássaro e mudo peixe do mar...
(REALI; ANTISERI apud EMPÉDOCLES, 2003, P.41).
No poema Empédocles dá as formas de vidas aptas para purificar-se e libertar-se do ciclo das reencarnações.
No pensamento de Empédocles: mística, física e teologia formam um Esfero. As quatro raízes para ele são divinas, e também as forças da amizade e discórdia. Deus é o Esfero; demônios são as almas, que como todo resto, são constituídas pelos elementos e forças cósmicas. Ao oposto do que muitos julgaram a unidade entre os poemas, Não havendo oposição entre a dimensão física e mística.
Já que neste mundo tudo deriva das quatro raízes que são divinas, não se vê que coisa não seja divina, nem como o corpo e a alma podem entrar em contraste. Só Platão terá resposta para esse problema.
ANAXÁGORAS: A DESCOBERTAS DAS HOMEOMERIAS E DA INTELIGÊNCIA ORDENADORA.
Biografia
Nascido por volta de 500 a.C. em Clazômenas e falecido em torno de 428 a.C. Viveu durante três décadas em Atenas. Provavelmente, foi exatamente seu mérito de ter introduzido o pensamento filosófico nesta cidade,destinada a tornar-se capital da filosofia antiga. Escreveu um tratado sobre a natureza, do qual temos apenas fragmentos.
Como Empédocles, Anaxágoras concorda com a afirmação de que o não ser não exista, e que o nascer e morrer são fatos reais.
Mas os gregos não consideram corretamente o nascer e o morrer: com efeito coisa alguma nasce e morre, mas sim, a partir das que existem, se produz um processo de composição e divisão. Portanto, eles deveriam chamar corretamente o nascer de compor-se e o morrer de dividir-se. (REALI; ANTISERI apud EMPÉDOCLES, 2003, P.42).
Para Anaxágoras não pode ser somente as quatro raízes a origem de todas as coisas, as quais compõe-se e decompõe-se. As quatros raízes estão bem longe de terem condições de explicar as tantas qualidades que se manifestam nos fenômenos.
As sementes (spérmata) ou elementos dos quais derivam as coisas deveriam ser tantas quantas são as inumeráveis quantidades das coisas, precisamente sementes com formas, cores e gostos de todo tipo, ou seja, infinitamente variadas. Assim, tais sementes são o originário qualitativo pensando eleaticamente, não apenas como incriados (eterno), mas também como imutável (nenhuma qualidade se transforma em outra, exatamente medida que é originária). Esses muitos originários são, em suma, cada um, como Melisso pensava, o Uno. (REALI; ANTISERI apud EMPÉDOCLES, 2003, P.42).
Essas sementes não são apenas infinitas em números, mas também infinitas em quantidade; não tem limites em grandeza e nem na pequenez, pelo fato de que podem ser divididas ao infinito sem que a divisão chegue ao nada.
Pode-se dividir qualquer semente que se queira, mesmo que sejam em partes sempre menores, e as partes de tal modo obtidas serão sempre da mesma qualidade.
De inicio entendemos que as homeomerias compunham a massa em que tudo era misturado junto, de tal forma que nenhuma se distinguia. Tempos depois alguma inteligência criou um movimento que provindo da mistura caótica, produziu mistura ordenada, da qual vieram todas as coisas. Consequentemente, tudo aquilo que existe são misturas bem ordenadas, em que existem sementes de todas as coisas, mas em medidas bem reduzidas. É a prevalência de cada semente que determina a diferença das coisas.
Tudo esta em tudo. Ou ainda: em cada coisa há parte de cada coisa. No grão de trigo prevalece determinada semente, mas nele está tudo, em particular o cabelo, a carne, o osso etc. (REALI; ANTISERI apud EMPÉDOCLES, 2003, P.43).
Anaxágoras fez a seguinte interrogação: como se pode produzir cabelo daquilo que não é cabelo? Carne daquilo que não é carne? Portanto, quando ingerimos o pão (grão), que comido e assimilado, torna-se cabelo, carne, etc. pois no pão está contida as sementes de tudo.
Com esse pensamente Anaxágoras tentava salvar a imobilidade tanto qualitativa como quantitativa: ou seja, nada vem do nada e nem vai para o nada, mas tudo está no ser desde sempre e para sempre.
A doutrina da Inteligência Cósmica
Todas as outras coisas têm parte de cada coisa, mas a inteligência é ilimitada, independente e não misturada a coisa alguma, mas encontra-se apenas em si mesma.
Em tudo se encontra parte de tudo, e essas coisas misturadas seriam um obstáculo para a inteligência, e ela não teria poder como se encontra em si mesma. A inteligência, com efeito, é mais sutil e mais pura, porém, possui um aguçado conhecimento e uma imensa força. E tudo que tem vida, seja o que for, são dominadas pela inteligência.
LÊUCIPO E DEMÓCRITO E O ATOMISMO
A ultima tentativa de responder o problema da physis foi realizada por Lêucipo e Demócrito com a descoberta do conceito do átomo.
Biografia
Lêucipo nasceu em Mileto, foi para a Itália, indo para Eléia nos meados do século V a.C, onde conheceu a doutrina eleática. Logo após foi para Abdera onde fundou uma escola que chegou ao seu auge com Demócrito filho desta mesma terra.
Demócrito nasceu em torno de 460 a.C. e morreu muito velho, depois de Sócrates. Foram atribuídas a ele muitas obras. Provavelmente estas obras formavam o Corpus da escola da qual fluíam obras do mestre e de alguns discípulos. Realizou longas viagens e adquiriu muito conhecimento e diversos campos.
Pensamento
Reafirmaram a impossibilidade do não ser. Para eles nascer nada mais é que agregar-se de coisas que já existem, e morrer desagregar-se ou separar dessas coisas. Mas trazem uma nova concepção dessas realidades: “trata-se de infinito número de corpos, invisíveis pela pequenez e volume. Tais corpos são indivisíveis, por isso á-tomo - do grego = não divisível.
Os átomos são incriados, indestrutíveis e imutáveis. Os átomos estão mais próximos do eleatismo que as quatro raízes, as sementes ou homeomorias. Pois são qualitativamente indiferenciados. Todos eles são um ser pleno, sendo diferente na forma, ou figura geométrica. Os átomos são uma fragmentação do Ser-Uno eleático, com infinitos seres-unos.
Para nós modernos átomo tem o significado pós-Galileu. Já para os abderitas indica uma forma originária sendo, portanto, átomo-forma.
O átomo se diferencia dos outros átomos, além da figura também pela ordem e pela posição. E as formas assim como a posição podem variar ao infinito. Naturalmente, o átomo não é perceptível pelos sentidos, mas somente pela inteligência. O átomo, portanto, é a forma visível ao intelecto. (REALI; ANTISERI, 1990, P.66/67)
O átomo como pleno do ser pressupõe o vazio (de ser, portanto, o não ser). Assim o vazio é tão importante como o pleno. Sem o vazio os átomos não poderiam se movimentar e diferenciar. O átomo, vazio, movimento são a explicação de tudo.
Os atomistas superaram a aporia eleática e salvaram a verdade e a opinião, ou seja os fenômenos. A verdade é dada pelos átomos que si diferenciam pelas formas geométricas (figura, ordem e posição) bem como o vazio; os vários fenômenos ulteriores e suas diferenças, derivam do diferente encontro dos átomos e do encontro posterior das coisas por ele produzidas com os nossos sentidos. “É opinião (doxa) o frio e opinião o calor; verdade o átomo e o vazio” (REALI; ANTISÉRI apud DEMÓCRITO, 1990, P. 67).
São três os movimentos no atomismo originário: a) O movimento primígenio dos átomos , que devia ser caótico, com os volteios em todas as direções dados pela poeira atmosférica que se vê nos raios do sol. b) desse movimento deriva um movimento vertiginoso, que leva os átomos semelhantes agregarem e diversos átomos disporem gerando o mundo. c) por último o movimento dos átomos que se libertam de todas as coisas (compostos atômicos) formando os eflúvios. (Ex. perfume).
Se os átomos são infinitos, também os mundos que derivam dele são infinitos e diferentes um dos outros, mas por vezes pode ser idênticos, por causa da infinita possibilidade de combinação. Se os átomos são infinitos, também os mundos que derivam dele são infinitos e diferentes um dos outros, mas por vezes pode ser idênticos, por causa da infinita possibilidade de combinação. (REALI; ANTISERI, 1990, P.67).
Os atomistas passaram a história como os puseram o mundo “ao sabor do acaso”. Mas não quer dizer que eles não atribuíram causas ao nascer do mundo, mas sim que não estabeleceram uma causa final. A ordem “o cosmo” é feito de um encontro mecânico entre os átomos, não projetado e não produzido por uma inteligência. A própria inteligência segue e não precede o composto atômico.
Os atomistas indicaram a existência de átomos privilegiados, lisos, esferiformes, de natureza ígnea: os constitutivos da alma e da inteligência. Para algumas testemunhas Demócrito teria até divinizado estes átomos.
O conhecimento deriva dos eflúvios dos átomos que se desprenderam de todas as coisas, em contato com os sentidos. Nesse contato o átomo semelhante reconhece o seu semelhante em nós. São dois tipos de conhecimento, vejamos: conhecimento sensorial e conhecimento inteligível: o primeiro nos dá só a opinião, ao passo que o segundo nos dá a verdade”. (REALI; ANTISERI, 1990, P.68).
Demócrito também se destacou em suas famosas sentenças morais. A idéia central desta ética, é de que a alma é a morada de nossa sorte e que precisamente na alma e não nas coisas exteriores ou nos bens do corpo que está a raiz da felicidade.
Demócrito também tinha uma grande visão cosmopolita, assim como ele mesmo nos mostra em um de seus escritos: “Todo país, terra esta aberto ao homem sábio, porque a pátria do homem virtuoso é o universo inteiro.” (REALI; ANTISÉRI apud DEMÓCRITO, 1990, P. 68).
A INVASÃO DOS ÚLTIMOS FÍSICOS EM SENTIDO ECLÉTICO E O RETORNO AO MONISMO: DIÓGENES DE APOLÔNIA E ARQUELAU DE ATENAS.
Esta filosofia da physis tende-se a combinar as ideias dos filósofos anteriores. Houve quem tentou combinar Tales e Heráclito, propondo como princípio a água, da qual ter-se-ia gerado o fogo, que venceu a água e grou os cosmos. Outros pensaram como princípio algo mais denso que o fogo e mais sutil que o ar, concebendo-o também o infinito. Heráclito e Anaxímenes, por uma lado e Tales e Anaxímenes, por outro.
Diógenes de Apolônia, exerceu sua atividade em Atenas entre 440 e 423 a.C., sustentou a necessidade de retornar ao monismo do princípio. Pois para ele se os princípios fossem muitos, e diferentes entre si, não poderiam misturar e agir um no outro. Assim o princípio único para ele é o ar infinito, mas dotado de muita inteligência.
Nessa teoria Diógenes combina Anaximandro e Anaxágoras.
Parece-me que aquilo que os homens chamam de ar é dotado de muita inteligência, a todos regendo e governando. Porque, precisamente ele parece deus, chegando a toda parte, dispondo de tudo e estando dentro de todas as coisas. Não há nada que não participe dele. (REALI; ANTISÉRI apud DIÓGENES, 1990, P. 69).
Mas nenhuma coisa participa do ar na mesma medida, pois muitos são os modos do ar e da inteligência: quente, frio, seco, úmido, parado rápido e muitas outras modificações de prazer e de cor.
Também as almas de todos os animais, são a mesma coisa, um ar mais quente que o de fora, onde vivemos, mais muito mais frio que aquele que existe junto ao sol. ora este cor não é igual em cada animal nem mesmo em cada homem, mas também não se difere muito: diferi dentro dos limites de semelhança das coisas. (REALI; ANTISÉRI apud DIÓGENES, 1990, P. 69).
Não podem ser do mesmo modo as coisas que mudam. Assim a transformação tem muitos modos, também muitos modos deve ser os animais com relação à forma, a vida e a inteligência. Entretanto todos vivem, vêem, e ouvem por obra do mesmo elemento e sua inteligência.
Logo nossa alma é ar-pensamento, que, vivendo, respiramos e que exala-se com o último suspiro quando morremos.
Tendo identificado a inteligência como ar-pensamento, Diógenes exaltou a visão finalística do universo que, em Anaxágoras, era limitada. Esta teoria teve grande importância em Atenas, constituindo um dos pontos de partida do pensamento socrático. Concepção análoga é atribuída a Arquelau de Atenas.
Muitas fontes o indicam como mestre de Sócrates. Aristófanes caracterizou Sócrates nas Nuvens. E as nuvens ao precisamente ar. “Sócrates desce das nuvens e prega as nuvens” isto é, o ar. Os contemporâneos de Sócrates, relacionavam-no com esses pensadores e com os sofistas.
CONCLUSÃO
O tema da “physis” é uma problemática que surgiu na Grécia Antiga e continua se sendo um tema atual. É comum vermos a ciência discutindo a origem cosmológica e a origem da terra “natureza”.
Físicos Pluralistas e os físicos Ecléticos nos trouxeram grandes contribuições ao desenvolverem suas teses. Com Empédocles temos as quatro raízes: terra, água, ar e fogo como a origem de tudo, movidas por duas forças cósmicas. Nascer e perecer dependem da agregação ou desagregação dos elementos imutáveis. O semelhante conhece o semelhante.
Anaxágoras segue o pensamento de Empédocles na questão do nascer. Mas as coisas que agregam ou desagregam para ele são as sementes, (homeomorias) “originário qualitativo”. Desta forma todas as coisas estão presentes em tudo, o que explica uma coisa transformar em outra. Mas o que prevalece dá características e diferenças específicas a cada coisa.
Leucipo e Demócrito apresentam a grande novidade o “átomo” visível só ao intelecto. As coisas sensíveis nascem, morrem e sofrem mutação, apenas em virtude da agregação ou desagregação dos átomos. Assim o ser não nasce não morre e nem entra em devir, adere a realidade do sensível “átomos”. Os átomos, o vazio e o movimento, são a explicação de tudo.
Diógenes e Arquelau voltam ao monismo, faz uma ligação entre as teses de Anaxímenes e Anaxágoras, e afirma que o princípio de tudo é o ar-inteligência.
Contudo ficam alguns questionamentos: o que justifica os quatro elementos ser a origem de tudo? Será que realmente tudo está em tudo? O amor e o ódio são divinos? Qual a origem destas origens apresentadas? A teoria do átomo é perfeita ou tem suas falhas? O que não podemos negar é que o átomo é uma realidade.
REFERÊNCIAS
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário da Língua Portuguesa. 6ª ed. Curitiba; Positivo 2004.
GOBRY, Ivam. Vocabulário Grego de Filosofia. Tradução Ivone C. Benedetti, São Paulo, WMF Martins Fontes, 2007.
JOLIVET, Regis. Vocabulário de Filosofia, tradução de Gerardo Dantas Barretto, Rio de Janeiro, Agir 1975.
MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Loyola, 2000.
REALLE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia, 10. ed. São Paulo: Paulus, 1991. v. 1.
REALLE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: Filosofia Pagã Antiga. São Paulo: Paulus, 2003.