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A LIBERDADE, FUNDAMENTO DAS AÇÕES HUMANAS

A liberdade é um tema refletido desde a antiguidade. Vale lembrar Platão e o Mito da caverna, Agostinho e o Livre arbítrio, Kant e a Autonomia da vontade, Amartya Sem e o Desenvolvimento como liberdade, entre outros que trataram do tema de forma brilhante. Embora sempre o tema liberdade fosse discutido, o homem continua buscando um princípio que conduza sua ação, de modo que não fira sua dignidade, nem a do outro. É possível a liberdade ser este fundamento?
Os gregos fundaram a moral na ordem natural do cosmos, e humana. Os medievais entendia a ética como sendo Deus um princípio e modelo ordenador, e os elementos ordenados. Ou seja, conforme Lima Vaz: “Deus, o paradigma ético, e as pessoas a Ele subordinadas.” Na modernidade o antropocentrismo rompe com os paradigmas. O homem se torna o centro do universo, logo responsável por suas ações. Mas, é possível fundamentar a moral no próprio homem?
Esta é a grande questão tratada pelos filósofos modernos, principalmente Emanuel Kant ao inaugurar a ética racionalista subjetiva, buscando um princípio racional, e universal para a moral, o imperativo categórico que se imprime pelo dever. Porém, o homem possui a liberdade entendida como autonomia. A vontade é livre quando confere a lei a si mesma, sendo autolegisladora, condicionando a liberdade à razão.  
A autonomia trouxe grandes consequências, pois a sociedade medieval era bem estruturada. Existia o princípio ordenador, Deus, que sobrepunha e regulamentava a vontade humana. Porém este modelo não corresponde aos novos ideais. Porque com a autonomia, o homem torna-se o senhor de seus atos. Não agindo de acordo com a vontade divina, mas dando a si mesmo a lei.
Deste modo, surge a questão: o homem sendo autônomo tende a absolutizar a subjetividade. Assim, o ser humano pode se achar em condição de fazer o que quer, esquecendo-se das leis universais, que garantem a ordem na sociedade. Exemplo: a vontade de ter dinheiro, sucesso e honras, não dá ao homem o direito de roubar, matar ou agir de forma injusta para conseguir tais fins.
Com isso, podemos afirmar que a liberdade pressupõe responsabilidade e uso da razão, pois nossas atitudes podem resultar na ordem ou no caos. E se existem os males neste mundo, somos nós mesmos os responsásseis, já que nossa vontade é autônoma. Como afirma Amartya Sen, os males não resultam de descuidos divinos são causados por nós devido ao mau uso da liberdade, mas se os provocamos somos também capazes de corrigi-los.
Portanto, a liberdade possui um valor primordial, visto que a autonomia prede-se a ideia de dignidade do ser humano, e faz dele um fim em si mesmo. Autor de sua própria lei, o homem não tem apenas um preço, ou seja, um valor relativo, mas um valor intrínseco. Pois ele é o autor do fluxo histórico capaz de provocar mudanças. Se o homem tiver a pretensão de um mundo bom, é necessário que ele acredite no fundamento racional e universal que conduz a sua ação, a autonomia.  
Percebe-se que a ideia de liberdade proporcionou grande avanço para a humanidade, pois o homem deixou de agir de acordo com a vontade alheia, ou por medo de punição, para a condição de leis práticas, que têm o valor em si, e que se impõem de maneira absoluta em todas as circunstâncias, e sejam quais forem às consequências. Pois a lei moral é valida para todo ser racional.
Contudo, ficam alguns questionamentos para continuar pensando. Diante da religião, do mercado e da política, o homem pode ser manipulado e ser privado de sua liberdade? O homem tem feito bom uso de sua liberdade? O sistema educacional forma o homem para autonomia? Os meios de comunicação estão a serviço da liberdade? E o homem tem consciência da responsabilidade que a liberdade o imprime?


Daniel de Souza Fialho
danielsf@folha.com.br
Elias Fernandes Pinto
eliasfp@folha.com.br

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UNO E A DÍADE

Os princípios identificados com o Uno e a Díade
Doutrinas não escritas de Platão

Segundo Reale (1993), tendo em vista que para a filosofia antes de Platão, explicar significa unificar, a multiplicidade de coisas sensíveis se resolve na multiplicidade inteligível “ideias”. Para explicar a multiplicidade do mundo inteligível entramos no segundo nível, da segunda navegação de Platão.
De acordo com Audi (2006), as “Doutrinas não escritas de Platão” são conhecidas através de livros de Aristóteles e diz que há dois princípios primeiros e opostos: o Uno e a Díade. Estes fundamentam as formas, “ideias.”
Para Reale (1993) a Protologia, discurso sobre os princípios primeiros, contém a fundamentação última, pois possui os princípios que procedem as ideias, que por sua vez explica o resto das coisas.
A Díade não é o número dois, assim como o Uno não é o número um, ambos possuem estruturas metamatemática. A Díade é a raiz da multiplicidade dos seres pensada como dualidade de grande e pequeno. Desempenha um papel de substrato a ação do Uno. Além do princípio de pluralidade horizontal, é princípio de gradação hierárquica do real.
A pluralidade, a diferença e a gradação dos entes nascem da ação do Uno. O Uno determina o Princípio oposto da Díade. Os dois princípios são originários. Contudo podemos dizer que não é correto dizer dois princípios no sentido numérico, mas sim metafórico entendido como prototípico.
Reale e Antiseri (2007) afirmam que o Uno age como princípio formal. Manifesta-se como o Bem, princípio de verdade e cognoscibilidade e valor. Platão definiu unidade como medida, e mais precisamente, como medida absolutamente exata.
Assim pode-se compreender que os Princípios são incorpóreos. Fundamentam tudo que existe. O uno é identificado com o Bem. O Uno delimita o ilimitado, a Díade. Da colaboração desses dois princípios originários é que procede a totalidade da Ideia.



Referências


AUDI, Roberto, Ddicionário de Filosofia de Cambridge. Trad. Paixão Neto. Et al. São Paulo: Paulus, 2006.

REALE, Giovanni, História da Filosofia Antiga. Trad. Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 1993.

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: Antiguidade e Idade Média. V. I, 8ª. ed. São Paulo: Paulus, 2007.